O que a ciência diz sobre o desenvolvimento infantil?

Ao longo dos anos, foi produzida uma quantidade inacreditável de pesquisas sobre o desenvolvimento do cérebro na primeira infância. As ciências sociais e comportamentais compilaram uma quantidade impressionante de informações, além de recentes descobertas na área da neurociência. Mas o que sabemos realmente sobre o desenvolvimento infantil? O Centro de Desenvolvimento Infantil da Universidade de Harvard resumiu décadas de pesquisa e descobertas nos temas que serão tratados adiante. Esta lista de temas nos dá uma visão geral de como é um desenvolvimento considerado saudável, o que faz com que ele se altere e como podemos prevenir que isso ocorra.

O excesso de estresse, tanto no nível familiar quanto no ambiental, afeta não apenas os adultos, mas também os bebês e as crianças pequenas. A adversidade pode afetar as bases da aprendizagem, o comportamento e a saúde. De fato, passar por situações muito difíceis durante a primeira infância pode gerar implicações físicas e químicas no cérebro da criança, afetando negativamente o comportamento e a capacidade de aprendizado futura, bem como aumentar a probabilidade de problemas de saúde físicos e mentais. Portanto, aprender a lidar com o estresse é essencial para o desenvolvimento saudável da infância. Temos que lembrar de que curtos períodos de estresse ajudam as crianças a aprender a se adaptar, desde que estejam recebendo apoio. No entanto, os efeitos tóxicos do estresse afetarão o desenvolvimento do cérebro da criança se ela não puder contar com um adulto responsável e atencioso que a ofereça apoio, ou se o estresse for muito intenso e prolongado.

O futuro de uma criança não é determinado apenas pela genética; o desenvolvimento é, na verdade, um processo de muitas interações. O ambiente, mesmo antes do nascimento, nos expõe a muitas experiências que modificam quimicamente a maneira pela qual alguns dos nossos genes se expressam. Por exemplo, as crianças nascem com a mesma capacidade de concentração, mas são as experiências vividas que determinarão o quanto esta habilidade será desenvolvida. Sabendo disso, podemos agir para garantir que estamos construindo uma estrutura cerebral forte em nossos filhos. Como? Proporcionando-lhes relacionamentos responsivas e experiências positivas.

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Embora o apego aos pais seja crucial, as crianças se beneficiam muito dos relacionamentos que mantêm com outros cuidadores. É claro que a principal relação das crianças será com os pais, mas o desenvolvimento de relacionamentos próximos com outros adultos (contato que sejam pessoas atenciosas e de confiança) não afetará a força da relação com os pais, e poderá promover o desenvolvimento socioafetivo da criança. Temos que ter em mente que esses relacionamentos não devem ser substituídos com frequência, que devem ser consistentes e promover interações de alta qualidade. Caso contrário, eles podem afetar negativamente as crianças, enfraquecendo sua capacidade de estabelecer expectativas seguras sobre como suas necessidades serão atendidas.

Grande parte da estrutura cerebral é construída durante os primeiros três anos de vida, mas isso não significa que a capacidade de continuar desenvolvendo-a se encerre nessa idade. Embora seja verdade que “quanto mais cedo melhor” e que alguns aspectos básicos da função cerebral, bem como do desenvolvimento emocional, dependem muito das primeiras experiências, muitos aspectos do funcionamento do cérebro continuam a se desenvolver durante a adolescência e o início da idade adulta. Portanto, após os três anos, ainda podemos aprender a superar os impactos negativos na maioria das áreas de desenvolvimento.

A negligência severa é uma ameaça igual (ou pior) para o desenvolvimento que o abuso físico. Negligência ou abandono a longo prazo leva à ativação persistente de reações de estresse. Por essa razão, crianças pequenas que vivenciam longos períodos de negligência apresentam mais problemas cognitivos e de atenção, déficits de linguagem, dificuldades acadêmicas, comportamentos antissociais e problemas relacionados às interações com seus colegas do que crianças que sofreram abuso físico. Isso demonstra a importância dos jogos de ação e reação para o desenvolvimento do cérebro, além de nos mostrar que um desenvolvimento saudável pode ser ameaçado não apenas por experiências negativas (como abusos físicos ou sexuais), mas também pela insuficiência de experiências positivas.

O desenvolvimento da resiliência requer relacionamentos saudáveis, não um individualismo rigoroso. A capacidade de lidar com a adversidade, adaptar-se e progredir não depende da força do caráter, mas de relacionamentos saudáveis, sistemas biológicos e da expressão genética de cada indivíduo. A presença constante de pelo menos um relacionamento saudável e as oportunidades para desenvolver mecanismos eficazes para enfrentar situações difíceis são condições essenciais para fortalecer nossa capacidade de enfrentar adversidades. Além disso, a ciência mostra que essa resiliência pode ser fortalecida em qualquer idade. Construir mecanismos para lidar com situações negativas é um processo de desenvolvimento que começa na infância e continua na fase adulta.

4 comentários em “O que a ciência diz sobre o desenvolvimento infantil?”

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