Propriedade é um conceito abstrato definido por pistas sociais e normativas.

É meu ou seu?

Por volta dos 29 meses, seu filho alcançará um marco muito interessante: entender que algumas coisas são dele, e outras, não. Isso o ajudará muito em seu desenvolvimento socioafetivo, permitindo que ele interaja e compreenda mais sobre o nosso mundo social. Este marco também requer muitas habilidades cognitivas e de raciocínio, pois seu filho começará a entender o conceito de propriedade. É surpreendente como as crianças conseguem fazer todos esses julgamentos mesmo sendo tão pequenas! Propriedade não é algo que elas possam ver, é um conceito abstrato definido por sinais sociais e normativos. Então, seu filho realmente entende o conceito de propriedade? Ou ele apenas fica bravo quando pegam o brinquedo dele?

Quando o segundo aniversário do seu filho se aproximar, você perceberá que as brigas em relação aos brinquedos se tornarão mais frequentes. Mesmo depois dos 18 meses, as tentativas de pegar brinquedos ou de permanecer na posse deles são comuns. No entanto, o que alguns estudos descobriram é que, nesta idade, quando o “dono” original do brinquedo tenta recuperá-lo, a criança que o pegou protesta com a mesma energia. Isso começa a mudar depois dos dois anos – nesta nova fase, as crianças irão protestar muito mais quando alguém tirar delas um brinquedo que era originalmente delas. Além disso, é nesta fase que elas começam a identificar os proprietários de certos objetos, por exemplo, “óculos do papai”.

Como as crianças entendem o conceito de propriedade?

Você certamente se surpreenderá com o nível de raciocínio necessário para atribuir a propriedade de um objeto a alguém! As crianças precisam fazer vários julgamentos, inclusive se alguém possui algo ou não, quem possui o que, por que e quais direitos elas têm sobre os objetos de outras pessoas. As crianças usam diferentes tipos de conhecimento para decidir sobre tudo isso. Por exemplo:

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  • Testemunho verbal: Por volta dos dois anos, as crianças podem atribuir a propriedade de um objeto a alguém se esta pessoa o reivindicar verbalmente. Por exemplo, se ela disser: “Esse chapéu é meu”.
  • Estereótipos de gênero e idade: Com cerca de 3 anos, as crianças provavelmente farão outros julgamentos de propriedade com base no que consideram que meninas, meninos, crianças ou adultos costumam possuir. Por exemplo, elas provavelmente dirão que um computador pertence a um adulto, enquanto uma boneca pertence a uma criança.
  • Tomador de decisão: Um pouco mais tarde, com cerca de 3 a 4 anos, as crianças começam a pensar que um objeto pertence à pessoa que decide se outros podem usá-lo. Portanto, elas entendem que existe um direito de propriedade.
  • Primeiro dono: Na pré-escola, o raciocínio da maioria das crianças é que uma pessoa é dona de um objeto porque o adquiriu primeiro ou porque é a primeira pessoa que conhecem que possui o objeto. Por exemplo, se você perguntar a uma criança de 4 ou 5 anos por que o amigo dela é dono de uma pedra, ela provavelmente explicará que é porque ele a encontrou; ou se ela vir uma menina brincando com uma bola e, depois, um menino brincando com a mesma bola, ela assumirá que a bola pertence à menina, já que estava com ela antes.
  • Transferências: Outra forma de possuir algo é fazendo uma transação (o objeto é transferido de uma pessoa para outra). Por volta dos 3 anos, as crianças entendem que a propriedade é transferida quando algo é dado como um presente (apenas se o contexto de presentear for realmente evidente). Mais tarde, com cerca de 4 anos de idade, elas passam a entender até a diferença entre uma transferência legítima e uma ilegítima, ou seja, entendem que alguém é dono de algo se este objeto foi um presente, mas não se for roubado. Então, entre 4 e 5 anos de idade, as crianças começam a entender o conceito de comprar e como esta ação dá a alguém o direito de propriedade.

Então, por que esse marco é tão importante para o seu filho?

Bem, entender o conceito de propriedade e o que pertence ou não a ele é uma parte crucial de seu desenvolvimento socioafetivo, e permitirá que ele tenha um comportamento social mais apropriado. Além disso, a propriedade determina uma grande parte da preferência da criança e quão memorável um objeto é para ela. Seu filho pode se lembrar de um carrinho ou preferi-lo a outros brinquedos encontrados na escolinha ou na casa de outra criança só pelo fato de o carrinho ser dele.

Além disso, entender que são donas de alguma coisa pode ajudar as crianças a compartilhar mais. Se uma criança não sabe que é dona de algo, também não saberá que tem o direito de oferecê-lo a outra pessoa. Entender que a posse não é a mesma coisa que a propriedade também pode ajudá-las a compartilhar com mais facilidade, pois elas sabem que, se o objeto for transferido temporariamente para outra criança, a propriedade dele será preservada.

Na próxima dez que o seu filho disser “É meu!”, pergunte a ele o porquê e veja que explicação ele lhe dá!

Para saber mais sobre o tema, veja estes estudos (em inglês):

2 comentários em “É meu ou seu?”

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